Vai um cafezinho?
O café é uma das bebidas de maior importância no comércio mundial, sendo largamente apreciado tanto por suas propriedades organolépticas quanto pelo seu efeito estimulante, creditado à cafeína. Doses moderadas de cafeína interferem positivamente no humor, na disposição, e na performance cognitiva devido ao seu efeito psicoestimulante. Efeitos potenciais positivos sobre a saúde são observados com o consumo habitual de três a cinco doses de café.
Além do efeito estimulante, já foi creditada à cafeína, juntamente às β-carbolinas a ação preventiva do café no desenvolvimento de doenças neurológicas, como Parkinson e Alzheimer, principalmente em homens. Já foi descrita também a ação do café na prevenção de cálculos renais e, estudos epidemiológicos demonstram que seu consumo habitual se relaciona com riscos significativamente inferiores de diabetes tipo 2, em decorrência também da cafeína, associada ao ácido clorogênico.
O consumo moderado de café também parece se associar inversamente com o blefaroespasmo primário – espasmo involuntário dos olhos que pode levar a cegueira. Efeitos protetores no desenvolvimento de asma também já foram observados: consumidores moderados tem 30% menos de chances de desenvolverem sintomas usuais deste problema respiratório – a cafeína possui efeito broncodilatador e reduz a fadiga dos músculos respiratórios. Cafeína, cafestol e kahweol possuem efeito protetor sobre o fígado e, o ácido cafeico auxilia no processo de detoxificação. A trigonelina, presente no café, origina a niacina, agindo na prevenção da pelagra, caracterizada por dermatite, diarreia e demência.
Como nem tudo são flores há sim efeitos negativos sobre a saúde com ingestão de café: por diminuir a pressão do esfíncter esofágico inferior esta bebida pode favorecer azia em alguns indivíduos. O ferro não heme, presente nos alimentos de origem vegetal, pode ter sua absorção reduzida em até 40% quando o café é ingerido até uma hora após seu consumo – isso se deve a complexação dos compostos fenólicos e mealnoidinas ao ferro no lúmen intestinal. Vale ressaltar que a associação de substâncias ácidas, como a vitamina C, à ingestão de alimentos fontes de ferro não heme minimiza este efeito.
Alguns processos de extração favorecem o aumento de colesterol sanguíneo, decorrente da ação dos já conhecidos kawheol e cafestol. Todavia, estes efeitos são observados apenas com o consumo habitual de café solúvel. Café expresso e coado não tiveram efeitos relevantes sobre o aumento desta lipoproteína. Por sua ação vasoconstritora, o consumo de café deve ser desestimulado por indivíduos hipertensos pois doses moderadas parecem ser suficientes para saturar os receptores de adenosina disponíveis e resultar nos efeitos vasoconstritores. Doses elevadas se relacionaram com níveis plasmáticos aumentados de homocisteína e risco aumentado de doenças cardíacas. Consumo elevado por hipertensos pode se relacionar com acidente vascular cerebral.
O café, embora em pequena extensão, favorece um balanço negativo do cálcio por induzir aumento da diurese aguda deste mineral. Portanto, se sugere que, especialmente os adultos com idade mais avançada, assegurem um consumo adequado de cálcio e vitamina D e consumam café até doses moderadas.
Quanto a neoplasias, estudos sugerem risco ligeiramente maior de desenvolvimento de câncer na bexiga em consumidores de café, principalmente quando associado ao tabaco. Já foi documentado que doses elevadas se associam com maior risco de câncer no pâncreas. Todavia, não há evidências claras de que a ingestão de café possa causar câncer: por ser rico em substâncias antioxidantes, como melanoidinas, cafeína, tocoferóis e compostos fenólicos, algumas pesquisas referem até um papel positivo do café na prevenção de determinados tipos de neoplasias como de mama, ovários, pele, fígado colon e reto. Cafestol e kawheol também possuem atividade quimioprotetora e anticarcinogenica.
Os efeitos potenciais do café na saúde dependem da qualidade e quantidade de compostos químicos. A frequência de ingestão, os hábitos alimentares, o estilo de vida e a predisposição genética individual para o desenvolvimento de determinadas patologias poderão de igual modo influenciar os efeitos do café na nossa saúde.